KANT - IMPERATIVO CATEGÓRICO

 Distinguem-se desde Kant, dois tipos de imperativos: o imperativo hipotético e o imperativo categórico.

Imperativo hipotético está submetido a uma condição, que costuma ser o fim perseguido. Por exemplo: “Se quiser que seus amigos sejam leais com você, seja leal com eles.” Ou: “Se não quiser ser preso, seja honesto.” São apenas as regras da prudência e da habilidade. Trata-se de escolher meios adequados ao fim perseguido, e eles só valem na medida em que ele é efetivamente perseguido.


Imperativo categórico, o contrário, é incondicional. Porque não tem nada a ver com nenhum fim. Por exemplo: “Seja leal com seus amigos.” Ou: “Não minta.” Imperativos morais, que comandam absolutamente: não tem a ver com êxito nem com a eficácia, como a prudência ou a habilidade, mas tem a ver com o dever simplesmente. Assim, explica Kant, quando se trata de depor num tribunal: quem se pergunta com que finalidade deveria dizer a verdade já é um miserável.


Os imperativos hipotéticos permanecem particulares: só valem para os que verificam sua condição, em outras palavras, para os que visam determinado objetivo (amigos leais, a confiança, o sucesso…). O imperativo categórico, por ser incondicional e não visar nenhum objetivo, é universal: vale para todo ser razoável finito, como diz Kant. É universal mesmo, na medida em que a razão o enuncia e o prescreve a si próprio - não apenas para o pensamento (razão teórica), mas também para a ação (razão prática). É o que determina sua fórmula, tão conhecida e tão exigente: “Aja unicamente de acordo com a máxima que faz que você possa querer ao mesmo tempo que ela se torne uma lei universal.” (Fundamentos…, II).


O senso comum, atribui ao imperativo categórico, um estatuto que não condiz com o conceito de universalidade de um imperativo moral, para Kant. O senso comum pensa o seguinte, quando Kant diz que é possível universalizar um imperativo moral, ele estaria dizendo que é o tipo da afirmação moral, que todo ser humano, em qualquer civilização, poderia concordar, que é uma afirmação correta e que deve valer para todos. Não é isso que ele está dizendo, Kant diz que, a moral só vale para todos, por que vale para cada um, ou seja, todo mundo concorda que um imperativo moral categórico “Não roubar”, se destina a todos, mesmo para os que não o respeitam. Mas é claro que isso está circunscrito dentro da Europa do final do século XVIII, onde Kant estava inserido. Ele naturalmente sabia que para um nativo da américa, a moral cristã-europeia não vale para ele. Não seria razoável pensar, que essa universalidade que ele propõe, seria para o mundo inteiro, porque sabia ele naturalmente, que esse “cada um” que ele diz, só poderia ser o indivíduo inserido em sua cultura, europeu, cristão, conhecedor dessa moral. Essa moral só vale para cada um, dentro do mundo europeu ocidental cristão e os cidadãos de suas colônias, que por extensão, são de cultura européia naturalmente, portanto, universal dentro dessa premissa. Não se esqueça de que Kant está se dirigindo ao povo europeu, quando explica sua filosofia, e naquela época se pensava que o único mundo civilizado, e digno de consideração era a Europa, portanto perfeitamente viável ele afirmar isso como universal, sendo que ele desconsiderava o resto do mundo, como parte do mundo. O mundo era a Europa. O mundo era o cidadão europeu.

                                                João Bosco Renna, 37 anos, Rio de Janeiro-RJ, 18 de fevereiro de 2021.

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